“O céu está tingido de uma cor negra, eu prefiro morrer ao ver as pessoas que eu amo morrerem, mas essa sombra cada vez mais escura se aproxima delas, como posso protegê-las? Como poderei salvá-las?
J.L.V

“É meu triste dever pôr no papel essas histórias lamentáveis. Mas não há nada que o impeça de largar o livro imediatamente e sair para outra leitura sobre coisas alegres, se é isso que você prefere.”
Respeitosamente,
Lemony Snicket

Prólogo

Os olhos vermelhos de Marié me olhavam cheios de rancor, eu quase conseguir sentir que ela me odiava. E não consegui culpá-la por isso, porque sabia de alguma maneira que ela sentia um pouco daquele ódio por si mesma, por estar sendo minha cúmplice em algo tão cruel.
Eu nunca tinha sido humano, e sabia que não podia estar entendo tudo plenamente, a morte não era algo que fosse ruim para mim, porque secretamente eu gostaria de saber que poderia deixar de existir sem causar impacto nenhum no mundo, gostaria de saber que minha existência é limitada, mas ela não é, eu não posso deixar de existir.
Eu olhei para todos aqueles cheios de dor, é claro que o de Isadora era a que mais sofria, mas não era uma surpresa, sempre tinha sido assim, mas de qualquer forma cada um deles sabia que algo tinha se quebrado e que absolutamente nada poderia modificar aquilo.
Vitor e Ruana pareciam ter estabelecido paz, os dois abraçavam Isa ao mesmo tempo, o corpo todo dela tremia.
Aureliano era quem estava mais perto do corpo de ana, ele que estava controlando as chamas, a menina sempre tinha querido ser cremada, e estavam realizando seu desejo agora.
Quando o corpo começou a queimar todo o sestrelho se encheu com cheiro de rosas, os soluços de Isa tinha se tornado mais forte.
Eu percebi que Roberto se manteve isolado em um canto o tempo todo, ele passava as mãos no rosto, como se ainda não acreditasse no que estava acontecendo, eu também sabia que Julio estava lá fora, e nunca se atreveria entrar, mas que ficaria ali até o final. E eu lhe seria grato por toda eternidade por isso.
Gina e Thomas se mantinham proximos, mas em completo silêncio.
Quando todo o corpo havia se tornado pó, aureliano desligou as chamas e tratou de recolher as cinzas de Ana.
E todos começaram uma caminhada silenciosa para o jardim, no qual as cinzas da menina loira foram esparramadas ao vento. Agora ela ficaria unida com a flores por toda a eternidade.
Eu me sentia fraco, e não era apenas por estar incompleto.
Se eu pudesse fugir, se tivesse sido capaz de reconhecer o medo naquela hora eu teria começado a correr para sempre, mas Marié estava lá, guardando todos aqueles segredos, deixando todos eles arrasados, não poderia fazer nada diferente disso, era impossível desistir de tudo, agora que o sacrifício tinha sido feito.
Um a Um os guardiões e os membros da ordem começaram a partir, os últimos a ficarem de pé apoiando isa foram Vitor e Ruana, eles também se foram quando eu fiz um sinal para que fizessem isso.
Eu me aproximei com cautela, os olhos dela estavam completamente vazios, mais do que já tinham estado antes, ela não pareceu se importar com minha aproximação, mas quando me ajoelhei na frente dela, pude perceber que os gritos não vieram porque ela não era capaz disso.
“Isa” eu chamei desejando que ela fizesse algo, mas ela permaneceu sem reação, então eu simplesmente coloquei o diário de Ludwig na frente dela e comecei a me afastar como os outros.
Eu já estava há muitos metros quando ela tocou nele, ela o abriu como se quando estivesse fazendo isso fizesse uma espécie de ferida a sangrar começasse a sangrar.
desejei desesperadamente que Alethéa voltasse, que ela convencesse Isadora a lutar como havia planejado por tanto tempo, mas isso não ia acontecer, afinal, ela também estava morta.
Meus olhos cegos encontraram os de Orifiel nesse momento, e eu vi neles a traição que aquele anjo cometeria, mas não pensei nem um minuto em impedir isso, Marié apareceu em seguida e eu me perguntei quanto tempo levaria para contar aos outros, e foi nesse instante que eu percebi que jamais contaria.
Afinal de contas, eu também era um traidor.